Muitas pessoas nos perguntam como é e como está sendo o Homeschooling. Mas, como cada família se estrutura de sua melhor forma e é um processo vivo, não venho aqui falar de metodologia, material ou conteúdo, mas sim relatar como tem sido para nós.
Acredito que começar falando de como era antes também é importante, pois a ideia do Homeschooling surgiu com a necessidade da viagem e não foi algo que aceitei desde o começo. Por ser professora, sempre defendi a escola e não compreendia como seria a educação fora dela. Mas também tinha minhas angustias ao ver como é desanimador o contexto da educação do nosso país.
Eu, como a maioria das pessoas que não conhecem bem Homeschooling, tinha muitos questionamentos e dentre as minhas críticas achava que era um estilo de educação que invalidava o professor, me soando como uma desconsideração com o trabalho e dedicação de quem atua numa sala de aula. Lembrando que eu sempre amei minha profissão!
O que podemos fazer diferente?
O desejo da viagem também surgiu diante desse momento da minha vida, de parar um pouco e refletir sobre meu propósito. O que eu poderia fazer diferente? É realmente esse caminho que eu quero continuar trilhando?
E é, com apoio do meu companheiro que isso tem ficado mais claro pra mim. Sei que não quero abandonar a área da Educação de forma alguma, mas noto que a partir do momento que temos um filho, começamos a pensar diferente, com um impulso maior para a ação, em busca do melhor para um todo maior.
Iniciei cedo no magistério, emendei a faculdade de pedagogia e já atuando com educação infantil, comecei a me perguntar qual o papel da escola e da família na formação das nossas crianças?
Sempre senti um conflito nesse âmbito. Pois vejo uma sociedade que acostumou e enxergar à escola de uma maneira, a moldando conforme suas exigências. Vejo uma desconexão com um propósito maior que é a formação das crianças.
O descaso das famílias com a escola e filhos, como também a tal falta de tempo que os levam a terceirizar toda educação, formação de valores e atenção emocional para própria escola, faz com que a escola fique sem dar conta dessa missão tão grandiosa.
Educação começa em casa
Se tem uma coisa que educadores e famílias conscientes podem concordar, é que a educação começa em casa, com a família e seu contexto. É na maneira como a criança é criada e educada na primeira infância, que configura como ela se relacionará com o mundo. Mas infelizmente o que vi nos últimos anos foram famílias invertendo esse papel.
Bom, isso é uma das coisas que me deixavam descontentes na escola e após a minha segunda gestação eu resolvi realmente ir em busca dessa mudança. Parar de trabalhar angustiada e também preocupada de não estar dando a educação que eu gostaria para minhas filhas. E sim, atuar mais ativamente na educação delas.
Durante um ano eu ponderei e me preparei para as mudanças, pesquisei sobre Homeschooling e todas as implicações, dificuldades e vantagens dos métodos e assim fui conhecendo muitas famílias praticantes. Dentre elas, um grupo de mães que se reuniam já há algum tempo, foi muito importante para não se sentir sozinha ou maluca nessa caminhada. A rede de apoio entre mães é imprescindível para nos fortalecermos, trocarmos experiências e promover a interação entre as crianças.
Além disso, o apoio da escola off Campus que optamos matricular a Eliza, a Clonlara foi fundamental para a nossa organização. Com essa escola temos os registros de avaliação e histórico escolar caso ela venha precisar futuramente. Como temos realmente a intenção de viajar por outros países, essa documentação pode ser necessária algum dia.
Agora falando dos meus sentimentos… sinto que o que está mudando dentro de mim é enxergar uma luz no fim do túnel. Muito dos meus anseios e angústias que tive como professora dentro de uma escola, muitas famílias estão tendo do lado de fora também. E estão buscando essa mudança!
Hoje não me vejo uma pessoa contra escola, com críticas aos profissionais que estão lá, mas entendo que se eu tenho condições e eu quero fazer diferente com as minhas filhas, eu devo ter essa liberdade. Os pais devem ter esse direito!
Claro que não é uma decisão unilateral, pois envolve uma grande mudança na dinâmica familiar. Percebo que geralmente são as mães que assumem a educação integral dos seus filhos, muitas por estarem com bebês ainda muito dependentes de seus cuidados. Elas abdicam muitas vezes da profissão por um período, para se dedicar integralmente à educação dos filhos.
Então, diria que esse é um ponto inicial, definir qual a participação e o compromisso dos pais. É importante ter o apoio de toda a família!
Nós tivemos essa sorte, apesar de muitos questionamentos dos familiares, a maioria acha incrível e corajoso de nossa parte. Ainda mais quando sabem o que nos motivou a fazer essa mudança.
Pudemos perceber que o tempo todo a criança está aprendendo, seja por toda atuação de seus sentidos ou pelos seus interesses e dúvidas, a qualquer momento temos a oportunidade de ensinar para criança o que ela precisa. O que não quer dizer que temos que estar explicando o tempo inteiro coisas para ela, mas sim devemos estar atentos as observações dela e sobretudo escutá-la!
Respeitar mais o tempo que a criança demora para assimilar alguma coisa e o seu interesse por esta coisa. Ela pode observar algo em um dia e depois de alguns dias lembrar e surgir com isso uma hipótese, um insight! Então, esse lindo processo de aprendizagem também passa a ser dos pais! E isto é muito enriquecedor!
A relação da nossa filha com pessoas de diferentes idades também é algo que se mostra de uma forma bem natural. Procuramos oportunizar diferentes formas de interação, encontros e experiências. Em alguns momentos ela até pediu escola, mas quando ela reflete percebe e comenta que hoje tem mais amigos do que podia ter na escola além de poder brincar bastante! Afinal, isso é o que mais importa pra ela, os amigos! E, por saber disso, que nos esforçamos para ela manter vários vínculos de amizades, encontrando-os com frequência.
Novo paradigma de aprendizagem
Sinto que estou aprendendo muito, sobretudo a lidar com um novo paradigma de aprendizagem, o livre aprender. Apesar de ter traçado uma lista de objetivos a serem alcançados com minhas filhas, é sempre elas que sinalizam o que mais precisam no momento. Isso é libertador! Uma transformação interna tanto da profissional que eu fui e que sou, da mãe, da dona de casa, esposa e até outros papéis que eu possa ter, e que sinto que só tem a melhorar.
São muitos os insights e reflexões que tenho tido com essa aventura durante o ano que passou ainda dentro de casa, mas por hoje é o quis pontuar de mais marcante para mim. Sigo sempre aberta a novos aprendizados, novas conexões, novos pensamentos, novos grupos…enfim, o novo. Essa postura de lidar com a vida é que queremos deixar como exemplo para nossas filhas.
O ano de 2019 será realmente novo. A segunda fase do nosso projeto possibilitará outra diferente experiência, além de morar e conhecer diferentes lugares, estaremos realizando o Worldschooling, termo usado para quem estuda viajando pelo mundo. Teremos que nos organizar com uma nova rotina, horários e desafios. E em breve estaremos compartilhando a nossa aventura!
Camila Carpentieri
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